Crônica MOTOCICLISMO: O ciclo das coisas e as fases da vida
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Crônica MOTOCICLISMO: O ciclo das coisas e as fases da vida

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  • Publicado: 12/02/2015
  • Por: jmesquita

<p>Primeira fase: “Confusão mental”. O telefone toca insistentemente… Estou em reunião e tento ignorar, o que parece impossível. Saio da sala e atendo… Do outro lado, uma voz angustiada: – Roubaram minha moto! Acho que roubaram… estacionei e não acho mais. Já dei duas voltas no mesmo quarteirão e nada dela. Vou dar mais uma (!?) para ver se acho. – Era meu compadre C., ensandecido com o capacete na mão no meio da Avenida Angélica, em São Paulo.</p>

<p>Segunda fase “A ira”: – Desejo que esse filho de uma rapariga se arrebente na primeira esquina… A gente vota no “Zezinho da Motoca” e nada adianta! Da próxima vez voto no “Tião da Cassetada”! Direitos humanos o cazzo! Tem que fuzilar toda essa corja! – Sem respirar, já entra na terceira fase: “Extrema esquerda”. – Quer saber, a culpa é da sociedade. Capitalismo é isso! É a cobra comendo o próprio rabo. Marx é que estava certo, por isso comprei uma moto alemã. Porcos capitalistas. Morte aos ianques sujos de óleo!</p>

<p>Continuo mudo… até que ele engata na quarta fase: “Autocomiseração”. – Quer saber, Roberto? Sou energúmeno mesmo, andar nesta região com a Mafalda (nome da moto)! Mereço esta situação. A moto valia umas quinhentas Bolsas Família (perigo de voltar à fase esquerdista).</p>

<p><span style="line-height: 1.6em;">– Pois é – tendo dizer algo são – Calma, pelo menos isso o dinheiro compra. Calma… (silêncio)</span></p>

<p><img alt="" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/cronicatexto2_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>

<p>Quinta fase: “Aceitação neurótica surreal simplificadora”. – Pelo menos estou vivo, tenho uma família com saúde, poderia ter levado um tiro, ser estuprado, morrer… Tem coisas piores: tifo, difteria, escorbuto, pancreatite, clavícula quebrada… <br />
– Sim, isso mesmo, amigón… – tento falar, mas ele me interrompe e entra imediatamente na fase seis: “Gratidão transcendental”. – Glória a Deus! Foi um aviso! Obrigado por terem levado a moto, a morte poderia estar escondida na esquina adiante! Aleluia! Tu-tu-tu-tu-tu… – Ele desliga.</p>

<p>Volta a ligar depois de 15 minutos, murmurando tristeza ao telefone, já com um pé na sétima fase: “Saudades”. – Gostava da Mafalda, só tinha mil quilômetros, vou ter sonhos com estradas, passeios, pôr do sol na serra do Rio do Rastro, vou precisar de um valium para dormir…</p>

<p>– Isso, toma dois! Fique bem. Abraço!</p>

<p>À noite C. me liga novamente. Fase oito: “Recuperação pragmática”. – Tomei uma decisão prá­­­­tica, vou comprar outra. Amanhã mesmo, vou a uma concessionária e compro a Mafalda 2! É, amigón, não vou me abater, esqueça o valium, vou sonhar com a minha nova companheira do asfalto! Você vai ver!</p>

<p>– Que bom, fico feliz, me apresente a Mafalda 2 quando já estiver com ela!</p>

<p>C. e Mafalda 2 se casam dali a duas semanas, nenhum dos dois achando que haveria qualquer sinistro no decorrer do resto de suas vidas, até que após um mês recebo outro telefonema de C. <span style="line-height: 1.6em;">– Roubaram Mafalda 2! Corja de malnascidos…</span></p>

<p>De volta ao estágio primeiro!</p>

<p>Keep riding!</p>

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