BMW GS Trophy Brasil 2014
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BMW GS Trophy Brasil 2014

7 Minutos de leitura

  • Publicado: 16/07/2014
  • Por: jmesquita

Entre os dias 6 e 8 de junho, aconteceu a classificatória nacional para o GS Trophy, evento que está na sua quarta edição, segunda no Brasil. Uma aventura sobre duas rodas que exige técnica na pilotagem, habilidades de orientação, esforço físico, controle emocional, além, é claro, de espírito de equipe, coisa que não é difícil conseguir o reunir exclusivamente apaixonados pela marca bávara. O palco foi a cidade de Socorro, SP, distante 132 km de São Paulo, junto à Serra da Mantiqueira, no Circuito das Águas Paulista. Todos os proprietários das motos BMW foram convidados, sabendo que os três melhores classificados nos desafios no fim de semana representarão o Brasil na etapa final, no Canadá, em setembro. A imprensa especializada também foi convidada e formou um grupo que competiu à parte, disputando vaga para a final, onde concorrerá com jornalistas estrangeiros.

O representante da MOTOCICLISMO foi nosso colaborador e amigo Fredy Tejada, um dos ícones do motociclismo nacional e que tem seu nome muito associado ao moto trial.

Estrutura

Um evento desse porte deveria mostrar algo além da qualidade dos produtos oferecidos ao mercado. A empresa capitaneada pelo espanhol Federico Alvarez alocou todo seu staff para oferecer aos proprietários mais do que um encontro casual dos usuários da marca. Mesmo pensando no conforto arriscaram oferecendo acomodações em barracas ao invés dos tradicionais quartos do hotel. A ideia era criar o ambiente de aventura nos mínimos detalhes. A apreensão logo acabou ao ouvirem os elogios dos “Beemers” (como são chamados os amantes da marca). Não faltou praticamente nada, desde a água gelada nos momentos de maior atividade até a cenografia esmerada compondo a vista privilegiada da natureza nos quatro pontos cardeais.

O evento

Bem estruturado e com proposta de um fim de semana lúdico e desafiador, o grupo formado por pouco mais de duas dezenas de motociclistas, desde a chegada na sexta-feira foram mantidos em grande expectativa. Os detalhes das atividades foram sendo revelados pouco a pouco, mantendo a apreensão e curiosidade dos participantes. A programação dos três dias estava convenientemente impressa no verso do crachá de identificação. Tudo para seguir à risca os horários estipulados. Se não foi com precisão britânica, a germânica se aproximou bastante. Na sexta após o credenciamento e jantar os pilotos dirigiram-se ao camping que à primeira vista parecia um dos tradicionais, mais ao adentrar na barraca percebeu-se o cuidado com o conforto de hóspedes exigentes.

Após o café da manhã realizou-se palestra sobre primeiros socorros. Um pouco extensa para o propósito do evento ao abordar inclusive acidentes com automóveis. A primeira atividade do dia foi a Prova Outdoor. Em um circuito mapeado passando, ora por estradas vicinais sem pavimentação, ora por propriedades privadas, os participantes deveriam cumprir tarefas das mais diversas, como consertar um pneu de moto furado, acertar um alvo utilizando um arco e flecha, entre outras. Tecnicamente impossível de cumprir todas, os participantes em duplas, a bordo das suas motos, deveriam estrategicamente selecionar um determinado número de tarefas para atingir a maior pontuação no limite de três horas. Após o almoço começou o enduro de regularidade circulando por caminhos da região. Os mais empenhados em cumprir à risca os horários não puderam apreciar a paisagem bucólica do sul de Minas, pois a cada segundo adiantado ou atrasado no PC perderiam preciosos pontos. No retorno ao Hotel Fazenda mais atividade. Desta vez, uma caminhada de aventura pela fazenda, seguindo planilha onde a direção e medições deveriam ser feitas com bússola e contagem de passos. No trajeto, uma descida de tirolesa com tiro ao alvo em movimento a mais de 50 metros de altura. Adrenalina pura!

À noite, um luau com direito a fogueira, banda tocando rock, churrasco, frutas e ao fundo uma portentosa cachoeira. Bebida alcoólica restringida causou certo incômodo a alguns motociclistas, mas foi uma medida correta tomada pela organização. Nessa noite já houveram discussões animadas sobre os hipotéticos do dia. 

O domingo iniciou com mais uma atividade em grupo, desta vez contra o relógio na travessia de um lago numa pequena jangada improvisada que transportava uma G 650 GS zero quilômetro. Formaram-se três grupos que se dividiram em duplas. Cada uma delas devia remar até outro lado do lago e a outra retornar ao ponto de partida. Serviu para observar o empenho daqueles dispostos a conquistar melhor pontuação geral…

Finalmente o desafio mais esperado da classificatória GS Trophy 2014: O Circuito de Habilidades ou melhor uma prova de trial. Simplificando sua definição, é uma competição motociclística individual que avalia a habilidade e domínio da moto ao transpor obstáculos onde o piloto não deve cometer faltas. Elas são: tocar os pés no chão, ultrapassar limites laterais ou cair. A cada falta perde pontos. Vence a competição aquele que conseguir superar os obstáculos cometendo menos faltas. Com o dobro do peso na pontuação geral, o Circuito de Habilidades foi deixado para o final justamente criando a maior expectativa entre os apaixonados pela GS.

O trial merece comentário à parte. Para praticar a modalidade o piloto deve conhecer intimamente sua motocicleta. Com isso saberá antecipadamente as reações da moto a cada mínimo movimento dos comandos, principalmente do acelerador podendo corrigir a trajetória, postura do corpo, etc.

A prova foi realizada numa área pouco maior do que um campo de futebol junto à entrada do parque onde foram delimitados 16 obstáculos. Alguns construídos pela organização e outros aproveitando a topografia do local. Em sequência, compunham um circuito por onde os pilotos deveriam fazer duas passagens no tempo máximo estabelecido pelo organizador, de sete minutos para cada volta. Os pilotos deveriam fazer o circuito seguindo as regras do trial. Isso foi suficiente para elevar ao máximo a expectativa dos participantes.

Disputada em motos da própria BMW, essa diretriz surpreendeu e, por momentos chegou a desestimular alguns participantes que imaginavam utilizar suas próprias motos. Pilotos técnicos sabem que em situações extremas é muito mais fácil vencer dificuldades com uma moto inferior que conhece bem, do que com uma super moto com a qual não tem qualquer familiaridade. Praticamente nenhum dos participantes tinha intimidade com a nova R 1200 GS e nem mesmo com a modalidade trial o que nivelou a disputa. Saíram-se melhor aqueles que tinham mais experiência com motos desse porte em situações mais radicais no offroad.

Réguas, piscina de areia, de lama, gangorra, pneus, barrancos, slalom, troncos e um “drift” sobre um pequeno tronco no final resultaram em várias quedas de praticamente todos os pilotos. Na segunda volta algumas baixas daqueles menos preparados para o offroad, mas muito empenho daqueles que buscavam classificação para a etapa internacional. Os pilotos classificados para representar o Brasil no Canadá foram: Alvaro Luiz Scheffer, em primeiro, Cassio de Oliveira Kossatz em segundo e Carlos Eduardo Prates Sachs, o terceiro melhor. No grupo da imprensa o melhor classificado foi Trinity Ronzella.

A moto

A GS (do alemão Gelände/Straẞe = offroad/road), veterana do mercado tem DNA aventureiro, declara Federico Alvarez diretor da BMW Motorrad Brasil. Ele tem razão e o vídeo de 60 segundos no site da empresa apresenta o modelo R 1200 GS dessa forma. Evidentemente com o significativo investimento feito para sua evolução nesta última versão ela deve ser “a bola da vez”, pois embora a fábrica germânica tenha modelos mais adequados para esse evento e acessíveis para o público em geral, o marketing e o mercado ditam as regras. 

O porte da R 1200 GS impressiona. Em qualquer parada, seja numa grande cidade ou numa estrada no interior desperta, no mínimo, curiosidade. Imponente e com peso compatível com a proposta de moto estradeira para chegar longe é menos offroad que sua antecessora. Em situações extremas os recursos como ESA-Dynamic, modos de condução e toda eletrônica embarcada são dispensáveis na passagem por obstáculos radicais. Afinal a moto não foi concebida para isso.

O motor boxer com os cabeçotes projetados para os lados indica que o motociclista deve-se conter nas aventuras mais radicais. Num percurso com obstáculos tipo trial fica claro que o peso de aproximadamente 240 Kg em ordem de marcha impõe limitações e se associadas ao porte (estatura e força) do motociclista certamente o levarão a ter que levantar a moto muitas vezes… Embora a R 1200 GS não tenha sido concebida para o desafio de habilidades nos obstáculos criados, saiu-se bem, considerando as incontáveis quedas que as unidades reservadas do modelo para o evento sofreram.

Minha participação – por Fredy Tejada

Tive um mal estar no início do evento e não rodei o quanto gostaria com a R 1200 GS. Colocando-me como expectador o evento foi impecável. Como piloto, acostumado a conduzir a moto em “Circuitos de Habilidade” tive dificuldade extra em relação aos demais participantes. Fui o único que durante décadas habituei-me a não receber ajuda externa em competições de trial. Conhecendo o peso da moto, a organização posicionou seu auxiliares para levanta-la toda vez que ela ia ao chão. Esforcei-me bastante para erguê-la na primeira volta. No trial nunca pude apoiar os pés no chão e retroceder com a moto. Isso foi permitido já que as dimensões dela eram a principal dificuldade em alguns obstáculos. Não aproveitei essa concessão. Os comandos da R 1200 GS não estavam ajustados para mim, a embreagem com regulagem para mãos maiores e o pedal do freio baixo dificultaram meu controle. Não me senti à vontade na moto com a pouca aderência do pneu traseiro não adequado e com calibragem alta para a o tipo de terreno. Necessitaria mais tempo para ganhar controle. Mas como em todos os resultados de competições sempre tem alguém argumentando “ Se não fosse…”. O importante é que a experiência foi positiva.

Conclusão

Tiro certo! A direção da BMW Motorrad Brasil acertou na estrutura criada para reforçar o conceito de marca premium e fidelizar seus clientes. A fórmula aplicada está aprovada no aspecto que a montadora trata como experiência social. Quanto ao desafio de pilotagem, tenho ressalvas. O evento aglutinou dois perfis de motociclistas: usuários da marca que viajam somente por estradas asfaltadas e os que se aventuram por caminhos mais radicais, colocando-os sem alternativa no mesmo nível de dificuldades. Há opções para separá-los sem perder o foco na seletiva para o evento mundial. Aguardemos as próximas edições. Parabéns à BMW!

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