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Entrevista com Julian Mallea, CEO da BMW Motorrad Brasil

8 Minutos de leitura

  • Publicado: 11/07/2022
  • Por: Isabel Reis

Julian Mallea, CEO da BMW Motorrad Brasil, participou desta entrevista e contou sobre os desafios do novo cargo, que ele assumiu em maio. O executivo argentino está na BMW desde 2003, atuando em várias áreas. Isso incluiu também a direção da Mini, no Brasil, em 2014.

Depois, o executivo passou para a BMW Motorrad, em 2018, e agora se tornou o presidente no Brasil.

O momento para a marca BMW parece muito produtivo. Estão previstos vários lançamentos para os próximos anos, inclusive na área de eletrificação. O mais próximo será o da nova R 18, programado para o segundo semestre. A BMW R 18 é uma moto estradeira, representando o retorno da BMW nesse nicho de mercado. Para saber mais, veja o vídeo acima ou leia toda a entrevista abaixo:

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Trata-se de uma longa carreira na BMW, que se iniciou em 2003, na Argentina. Como é o desafio de ser, agora, o CEO da BMW Motorrad no nosso país? 

Julian Mallea – Comecei na BMW argentina, em uma área que não tinha nada a ver com a comercial, do setor tributário. Aí fui evoluindo na área comercial e trabalhando na divisão de motocicletas da Argentina. Fui convidado a vir para o Brasil no final de 2014, já encarando as crises de 2015 e 2016. Então, tive a oportunidade de passar para a BMW Motorrad. Para o grupo BMW, este país tem um mercado estratégico muito relevante: somos o sexto no ranking mundial da marca e temos com uma planta em Manaus. O público brasileiro está focado nas motocicletas. É um prazer estar nesta posição de comando.

Você assumiu como CEO da BMW Motorrad em maio?

Julian Mallea – Sim, no começo de maio. Temos uma estrutura separada de funcionamento, como se fossemos três entidades diferentes. Temos a área financeira, a companhia de carros e a companhia de motocicletas.

Como é esse desafio de ser o responsável pela operação no Brasil?

Julian Mallea – Foi um reconhecimento bem bacana. Eu gosto muito de liderar o time da BMW, que por sinal é fantástico. Mas logicamente que à medida que vou evoluindo na carreira, tenho outros desafios e aprendizados. Estou saindo um pouco do operacional e seguindo mais para o lado estratégico, construindo outros tipos de relacionamentos.

Você falou que existe uma divisão entre as áreas. Qual é a participação de motos quando comparada com a de automóveis, no Brasil?

Julian Mallea – Motos representam quase 80%. Trata-se de um mercado com a maior representação de motorrad em relação ao de carro, a nível mundial. Por isso, também, que o grupo decidiu investir em uma planta aqui no país, o que facilita muito a nossa operação. Estamos sediados aqui para trabalhar com CKD, em Manaus. Isso demonstra a relevância estratégica de motocicletas BMW para o grupo todo.

A fábrica da BMW Motorrad em Manaus é a primeira fora da Alemanha 100% dedicada à produção de motos e completou cinco anos. É isso?

Julian Mallea – Exatamente. No ano passado completamos cinco anos. A gente tem outra planta de motocicletas fora de Berlim (Alemanha), que fica na Tailândia, mas atua junto com carros. Aqui a nossa planta é exclusiva, só para motocicletas, com um pessoal 100% dedicado a motorrad e com qualidade altíssima. A nossa planta em Manaus está muito bem preparada.

O departamento local de engenharia tem autonomia para criar produtos destinados ao Brasil ou os produtos são globais?

Julian Mallea – Normalmente temos uma estratégia, onde conseguimos encaixar todas as necessidades para atender o mercado, para que ele possa evoluir no futuro. A planta gera necessidades específicas, como a de procurar fornecedores locais para as adaptações específicas. Mas sempre com um olhar muito forte a partir de Berlim. Ou seja, não temos autonomia para criar um modelo no Brasil. A gente segue a linha estratégica mundial, mas ajustando os perfis de alguns modelos, adaptando-os para o mercado local. E também, dependendo do modelo, encaixá-lo no nosso CKD, com os fornecedores daqui. Mas para o lançamento de um produto novo, isso passa, sim, pela Alemanha. Vou dar um exemplo: temos uma relevância muito expressiva nos modelos de entrada, que são as 310. Basicamente se pensou muito no Brasil na hora de lançar essa moto. A qualidade do produto foi evoluindo bastante e está super ótimo para os clientes que procuram veículos de entrada. A linha GS 310 tem esportividade, agilidade e está dando certo. Não só no Brasil, mas em toda a América Latina: um produto focado para a nossa cultura latino americana. Nesse caso, conseguimos posicionar algumas coisas com a Alemanha para a GS atender a todas as necessidades do nosso público daqui. Mas as motos vindas de Manaus são vendidas só no Brasil. Estamos preparados para exportar. Mas por enquanto só atendemos o mercado local.

A linha 310: sucesso da marca no Brasil, desenvolvida junto com os indianos da TVS e montada na fábrica da BMW em Manaus (Foto: Arquivo)

A BMW Motorrad tem parceria com a indiana TVS para desenvolver modelos de entrada e recentemente foi assinado um novo contrato para a criação de motos elétricas. Há novidades em andamento?

Julian Mallea – O grupo está trabalhando com a BMW GS 310. Logicamente que temos uma ofensiva de um produto na frente, mais para o lado elétrico. Mas o mercado vai depender de muitos fatores, como infraestrutura. Por exemplo, eu sempre falo que diferentemente de carros, que vem evoluindo nessa área há mais tempo, na parte de motocicletas ainda não temos uma legislação, com uma tarifa reduzida. Estamos em foco com isso e em algum momento esses produtos devem chegar ao mercado brasileiro. É parte da estratégia a nível mundial. Mas por enquanto ainda está nas fases de estudo e de análise.

Novo scooter CE 04: lançamento recente no mercado exterior, mas sem previsão para o Brasil (Foto: Arquivo)

O scooter elétrico CE 04 lançado recentemente em versão de produção no exterior, além de outros scooters elétricos da BMW, mostrados em eventos e apresentações virtuais, estão fora da nossa possibilidade aqui?

Julian Mallea – Eu não diria fora do mercado brasileiro. Só não temos certeza quando será. Mas como falei, o Brasil é o sexto mercado da BMW Motorrad a nível mundial. Eu não imagino o futuro com o Brasil ficando fora de produtos elétricos na área de motocicletas. Só temos que encaixar quando e qual modelo trazer. Isso está dentro da nossa estratégia de médio e longo prazo.

R 18, a moto que marca o retorno da BMW Motorrad ao segmento cruiser (Foto: Arquivo)

Outra motocicleta que vem chamando muita atenção é a BMW R 18, que marca o retorno de vocês ao nicho das motos estradeiras. Há planos para trazer a R 18 ao nosso país?

Julian Mallea – Essa é uma linha muito importante. Para quem não conhece a nossa história, a marca BMW Motorrad começou com esse tipo de moto. Só para lembrar, uma delas foi a R 32. Depois de ter sido um ícone, estamos trazendo agora a nova versão R 18. A moto foi planejada para o mercado brasileiro, já foi comunicado na imprensa, e vamos iniciar todo o processo de pré-venda online para o modelo. Vem um lote restrito este ano, devido às limitações que existem mundialmente, com semicondutores e demais. A ideia é que comece a pré-venda em agosto.

As motos de entrada da BMW no mercado brasileiro são da faixa de 300 cilindradas, fortes para quem é iniciante no motociclismo. Vocês pensam em desenvolver produtos mais “modestos” em termos de cilindrada para atender aos estreantes neste universo?

Julian Mallea – Abaixo de 300 cilindradas acho um pouco difícil porque seria uma escala que não estamos acostumados a trabalhar, mudaria um pouco o que é o nosso DNA como marca. Mas o segmento da BMW 310 para cima ainda tem coisas boas para explorar. O grupo está trabalhando, não posso especificar, mas vêm mais coisas pela frente.

As minhas perguntas já acabaram, mas fique à vontade para complementar o que quiser.

Julian Mallea – Só queria explicar melhor a nossa estratégia, que é a de focar um pouco mais em experiência, trabalhando com os nossos concessionários. Queremos nos converter em uma marca que entregue experiência para os clientes. Não estou falando de experiência de marca, mas, sim, de uso da moto, construindo essa cultura de não deixá-la parada na garagem, de o nosso cliente usar mais a motocicleta, se aproximar mais do concessionário, entender melhor o seu veículo, toda a sua capacidade, curtir a motocicleta. Essa é um pouco da missão que temos nos próximos anos. Estamos com uma presença bem forte de público feminino, de 15 a 16% dos nossos consumidores, o que é muito gratificante para nós. Também temos muitos casais, que saem com suas motocicletas. Isso valoriza muito essa cultura, de andar em grupo, de sair de férias juntos, viajar juntos. Estamos promovendo passeios, nossos concessionários estão trabalhando nisso. No final, queremos gerar boas experiências.

Para finalizar, gostaria de passar uma mensagem para os leitores da Motociclismo, que são fãs da BMW, conforme mostra a nossa pesquisa do Moto de Ouro?

Julian Mallea – Só quem roda de moto consegue explicar o que se sente em uma motocicleta. A nossa intenção como marca é sempre deixar o nosso cliente, ou o nosso futuro cliente, muito contente. Curtir a motocicleta, viver uma experiência inesquecível. Criar amizades, relacionamentos. A nossa missão é colocar cada vez mais motociclistas nas ruas, especialmente dessas novas gerações. Entendemos que uma galera nova está entrando para rodar de motocicleta.  

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